Cada vez mais se fala sobre startups no Brasil nos últimos anos e em alguns países, como nos Estados Unidos, o termo é utilizado há décadas. Mesmo assim, ainda pairam dúvidas sobre a cabeça de empreendedores acerca do que é startup e de quando um negócio deixa de ser uma.
Resumidamente, só pelo fato de estar iniciando ou trabalhar com tecnologia um empreendimento não é uma startup. Existem alguns critérios relacionados a fatores internos e externos que caracterizam as startups.
Então, tire as suas dúvidas sobre a conceituação de negócios e seus modelos e saiba definitivamente como caracterizar a sua empresa.
O que é startup? Conheça 3 teorias
Teoria de Steve Blank
O estadunidense Steve Blank foi um empreendedor serial do Vale do Silício e também dá aulas sobre empreendedorismo e negócios em instituições renomadas, como Universidade da Califórnia, Columbia University e Caltech.
Entre 1978 e 1999 participou da fundação e da iniciação de oito startups e criou a metodologia chamada Desenvolvimento do Cliente, seguida até hoje por muitas startups para encontrarem o público certo e validarem suas soluções.
Conforme Steve, uma startup é um modelo temporário de organização projetado para alcançar um modelo de negócio escalável e repetível atuando em ambiente e momento de incertezas. Com isso, e analisando a teoria por partes, Blank quer dizer que:
- a organização é temporária porque após a validação e o crescimento o negócio deixa de ser uma startup, também passando pelas incertezas, para ser uma organização perene e estabelecida no mercado;
- a escalabilidade e a possibilidade de ter um processo repetível são coisas necessárias para o que o crescimento possa ser rápido, ao mesmo tempo mantendo a empresa e sua equipe enxutas — sem aumento de despesas na mesma proporção;
- o ambiente ou o momento de incerteza diz respeito a uma solução ou a um modelo de negócio novo no mercado ou inovador, precisando de validação e da criação de um sistema de distribuição.
Teoria de Eric Ries
Também estadunidense e empreendedor na área da tecnologia, Ries foi aluno de Steve Blank e pelo qual o professor nutre certo orgulho, já tendo dito publicamente que Eric foi um dos melhores estudantes a quem já lecionou.
Na verdade, a teoria de Eric não diferencia-se muito da mais antiga e criada por Steve: uma startup é um modelo temporário de organização criado para projetar novas soluções em ambiente e momento de incertezas. Ou seja, ele deixa não inclui as características de escalabilidade e possibilidade de repetição. Por outro lado, Eric dá muita importância a modelos de negócios enxutos e, por isso, criou e disseminou a metodologia Lean Startup.
Unindo ideias e estratégias de gestão, marketing e tecnologia, a metodologia da startup enxuta visa simultaneamente eliminar qualquer tipo de desperdício e dar rapidez às operações e aos demais processos de uma empresa, como seu backoffice.
Tendo aprendido sobre desenvolvimento de público com Steve e unindo os ensinamentos do professor às suas ideias de estruturas enxutas, Ries também espalhou pelas startups o conceito, e as práticas de alcance, do produto mínimo viável.
Teoria de Paul Graham
Outro nativo dos Estados Unidos, Paul é co-fundador da Y Combinator, uma das maiores aceleradoras de startups do planeta. Não por acaso, sendo ele investidor, sua teoria seja mais simplista e focada no retorno financeiro: startup é uma empresa desenvolvida de maneira a crescer muito rapidamente.
Para isso, Graham afirma que o negócio tem de ter o que ele chama de “DNA de startup”, um modelo de negócios diferenciado, voltado ao atendimento de necessidades e com um grande mercado em potencial a ser atingido. Logo, não é qualquer empresa, mesmo alcançando grande sucesso e até com rapidez, que caracteriza-se como uma startup.
Segundo Paul, incertezas e grandes riscos também fazem parte do ambiente de startups, questões que em contrapartida geram grande retorno financeiro após investimentos quando negócios são vendidos ou abrem o capital na bolsa de valores.
Como saber se minha empresa é uma startup
Você pôde perceber que as teorias que apresentamos, as mais respeitadas e seguidas do universo das startups, têm semelhanças importantes — diferenciando-se na prática de acordo com a visão e a atuação profissional de cada teórico.
Diante disso, podemos extrair delas um compilado de critérios que vão ajudá-lo a definir se o seu negócio é ou não uma startup:
- possibilidade de escalabilidade, repetição e automação de soluções;
- base tecnológica, ainda que não seja vendida uma tecnologia em si;
- modelo de negócio adaptável;
- solução inovadora e/ou destinada a um mercado ainda não explorado;
- cenário de incerteza e até de riscos.
Quando um negócio deixa de ser uma startup
Tecnicamente, quando uma empresa cresce a ponto de ser totalmente estável, estabelecida no mercado e com todas as incertezas eliminadas, deixa de ser uma startup.
Recentemente, a Apple tornou-se a primeira organização do mundo a atingir R$ 1 trilhão de valor de mercado. Distante de qualquer incerteza e totalmente segura em seu mercado, deixou de ser startup há décadas, mas foi como startup que ela começou.
O mesmo ocorreu com Google, HP e outras gigantes, mas não é preciso atingir o patamar mundial e bilionário para a mudança de cenário ocorrer. Há algum tempo a empresa desenvolvedora do aplicativo iCasei anunciou que deixou de ser startup. Na última vez que divulgou seu faturamento o valor de R$ 10 milhões no ano, muito abaixo de Google e Apple. Porém, neste momento não existia mais um cenário incerto e altos riscos envolvidos em operação, investimento e distribuição da solução.
Obviamente, mesmo deixando de ser startups as empresas podem manter a cultura: adaptarem-se com rapidez quando necessário, entenderem a necessidade dos clientes antes de qualquer lançamento e manter uma estrutura enxuta.
Também é importante observar que mesmo que não seja possível caracterizar o empreendimento como startup, os pontos da cultura desse tipo de empresa podem ser valorizados. Por exemplo, o modelo de gestão pode ser adaptável, não totalmente engessado, e sempre que possível ações devem ser automatizadas e/ou padronizadas para serem mais rápidas e mais enxutas, ainda que não operacionais.
Agora que você sabe o que é startup, pode ter certeza de que seu negócio é ou não uma delas e quais fatores da cultura inovadora encaixam-se no empreendimento. E se você tem mais alguma dúvida ou quer contribuir com o assunto, utilize os comentários abaixo.