Para buscar investimentos ou mesmo vender um negócio após ele se tornar case de sucesso, empreendedores precisam saber como calcular o valuation de startups. E o maior erro que vários cometem neste momento é supervalorizar suas empresas, classificando financeiramente a paixão que têm pelos seus negócios.
Porém, o mercado sempre demanda coerência e cálculos confiáveis para a avaliação de empresas. Daí a importância de entender o que significa o valuation na prática e conhecer as formas técnicas de calculá-lo.
Então, saiba mais agora sobre o conceito dessa avaliação e veja como calcular o valor de startups mais e menos desenvolvidas.
O que é o valuation de fato para uma startup
Em termos gerais e teóricos o valuation, do português avaliação, significa o valor de mercado de uma empresa levando em conta critérios como caixa gerado, ativos e patrimônio ou performance, a depender do método de cálculo utilizado — sendo eles priorizam diferentes fatores.
Porém, esses formatos padronizados de calcular o valor de um negócio, muito utilizado por empresas tradicionais, nem sempre podem ser aplicados a uma startup. Isso porque uma delas pode oferecer risco acima do comum ou apresentar uma ideia extremamente valiosa e inovadora.
Ou seja, além de quesitos objetivos e quantitativos, fatores subjetivos e qualitativos também influenciam no modo de calcular o valuation da startup, especialmente se ela estiver nos primeiros estágios de seu ciclo de vida, como:
- Tamanho do mercado disponível para atuação;
- Existência ou não de barreiras de entrada no mercado para possíveis concorrentes;
- Parcerias estratégicas firmadas;
- Grau de inovação das operações;
- Grau de inovação da ideia e da proposta de valor das soluções;
- Possibilidade de as soluções tornarem-se ou não obsoletas futuramente;
- Ativos intangíveis;
- Canais digitais e físicos de distribuição das soluções ao público;
- Objetividade e coerência do plano de negócios.
Sendo assim, em alguns casos o valuation das startups é o seu valor projetado, como na apresentação de um pitch a um investidor, levando em conta tais características para medição de seu potencial.
Já para startups em fase de crescimento ou escala os métodos mais tradicionais de cálculo podem ser aplicados, pois em tais estágios elas já possuem ativos tangíveis e intangíveis, fatia de mercado, geração de caixa e desempenho comprovado no setor.
Portanto, empreendedores de negócios mais desenvolvidos podem fazer esses cálculos para buscar investimentos e até vender suas empresas de acordo com um valor de mercado mais objetivo.
2 métodos para calcular o valuation da startup em fase inicial
Método Scorecard
Criado pelo investidor-anjo estadunidense Bill Payne, esse método pode ser utilizado até mesmo em startups ainda sem faturamento, e da mesma forma para aquelas cujas receitas ainda representem uma amostragem muita baixa para formação de valuation.
O ponto negativo do método é que tanto a realização de seu cálculo quanto o resultado podem ser subjetivos demais, o que exige muita coerência e até um pouco de pessimismo se o avaliador for o dono do negócio.
O primeiro passo para aplicar o Scorecard é definir um valor inicial, de acordo com a avaliação de quem está realizando o processo. Para isso, o responsável pode comparar a startup a outras em mesmo estágio, do mesmo ramo de atuação, e a seus valores — o que pode ser um pouco difícil pela necessidade de se conseguir informações muito particulares.
Depois, pesos devem ser atribuídos a sete virtudes da empresa e comparados a pesos médios utilizados no método de avaliação, números que geram o multiplicador do valor inicial do processo pelo cálculo que mostraremos a seguir.
Os critérios e seus pesos são estes:
- Capacidade da equipe de gestão: 30%;
- Tamanho de oportunidade de negócio existente: 25%;
- Solução e tecnologia: 15%;
- Competitividade do ambiente: 10%;
- Canais de vendas, marketing e parcerias: 10%;
- Necessidade de aporte complementar: 5%;
- Outros fatores diversos: 5%.
Então, por exemplo, se a capacidade de equipe de gerenciamento dentro da startup em questão representar um peso de 100% para o seu sucesso, este quesito gera o multiplicador 0,3 (resultado de 0,3 x 1,0).
Sucessivamente, isso é feito com todos os fatores e os resultados são somados para obtenção do multiplicador aplicado no valuation. Veja em um exemplo:
Critérios | Peso para o sucesso do negócio | Cálculo do fator (peso da tabela do método x peso na startup) | Resultado do fator para soma |
Peso na startup da capacidade de sua equipe de gestão | 100% | 0,3 x 1,00 | 0,3 |
Peso do tamanho de oportunidade existente | 60% | 0,25 x 0,6 | 0,15 |
Peso da solução e das tecnologias envolvidas no desenvolvimento | 125% | 1,25 x 0,4 | 0,5 |
Peso da competitividade do ambiente | 5% | 0,10 x 0,05 | 0,005 |
Peso dos canais de vendas e marketing | 50% | 0,10 x 0,50 | 0,05 |
Peso da necessidade de investimento | 125% | 0,05 x 1,25 | 0,0625 |
Peso de outros fatores | 40% | 0,05 x 0,4 | 0,02 |
Total do multiplicador | ——————- | ————————————— | 1,65 |
Para nosso exemplo, se o valor inicial fosse de R$ 100 mil, com o multiplicador 1,65, teríamos como valuation o resultado de R$ 165 mil (R$ 100 mil x 1,65).
Lembrando: assim como o valor inicial do exemplo, os pesos atribuídos aos fatores da startup para o cálculo no método Scorecard são subjetivos e vistos na análise de quem está fazendo a avaliação. Por isso, todas as etapas do processo exigem muita cautela.
Método de fatores de risco
Uma startup que está dando os primeiros passos ou ainda nem possui faturamento também pode calcular o quanto vale no mercado pelo método que a avalia diante de riscos diversos e de quanto eles representam para o negócio.
Ele é aplicado pela Tech Angels, um fundo de investimento em startups de Ohio, e pesa os fatores de risco com variações de R$ 250 mil, da seguinte forma:
- Risco muito baixo: R$ 500 mil adicionados ao valor inicial da avaliação do negócio;
- Risco baixo: + R$ 250 mil;
- Normal: sem adição ou subtração;
- Risco alto: R$ 250 mil subtraídos do valor inicial;
- Risco muito alto: – R$ 500 mil.
Já os fatores de riscos são relacionados a:
-
- Gestão;
- Estágio da empresa;
- Rico legal e/ou político;
- De desenvolvimento, prestação dos serviços ou produção;
- Comercial;
- Competitivo;
- De financiamento;
- Tecnológico;
- Societário e de litígio em parcerias;
- Internacional;
- De lucro;
- De reputação.
Pelo método, caso apenas dois fatores tenham risco baixo (+ R$ 250 mil em cada) e um tenha risco alto (- R$ 250 mil) e os restantes tenham risco normal, são adicionados R$ 250 mil ao valor inicial atribuído à startup.
2 métodos para calcular o valuation das startups em fase de crescimento e escala
Por fluxo de caixa descontado
Em suma, por essa técnica considera-se que o negócio vale o que irá gerar de caixa para os próximos cinco anos.
Então, a conta é feita com base em projeções, que devem ser realistas e ter como direção anos anteriores e pretensões de investimentos em melhorias e crescimento.
Depois, desconta-se um percentual que é referente ao risco de as projeções não serem realizadas de acordo com fatores internos e externos levados em conta na avaliação e a demais critérios, como:
- Custo de capital para as operações;
- Custo de oportunidade;
- Depreciações.
Por isso, o método não prevê uma porcentagem de desconto. Cada empresa, com suas variáveis e seus riscos, chega a determinado desconto para aplicação.
Sendo assim, supondo que o fluxo de caixa da empresa alcance R$ 1 milhão para os próximos cinco anos e a formação do desconto fique em 27%, seu valuation é de R$ 730 mil.
Método Venture Capital
Desenvolvido dentro Universidade de Harvard, é um dos mais usados por fundos de investimento no momento de avaliarem empresas. Logo, seu uso é mais indicado por empreendedores se estiverem calculando o valuation na busca por um aporte.
No cálculo, projeta-se o valor com o qual o investidor ou fundo de investimento sairá da empresa ao fim de sua participação e divide-se a cifra pelo retorno sobre investimento (ROI) esperado para ele.
Por exemplo, se o negócio deseja conquistar um aporte de R$ 1 milhão para saída do investidor, com seu lucro, em três anos, a conta é a seguinte:
- Capital pretendido: R$ 1 milhão;
- Suposto faturamento anual: R$ 1,5 milhão;
- Receita projetada para o ano de saída do investidor: R$ 5 milhões;
- Suposta margem de lucro líquida: 20%;
- ROI esperado: no mínimo três vezes o investimento;
- Resultado (múltiplo) da relação preço/lucro da empresa: supostamente 15x;
- Valuation no ano de saída do investidor: lucro líquido do ano (R$ 1 milhão) x múltiplo preço/lucro (15) = R$ 15 milhões;
- Valuation atual: valor para o ano de saída do investidor (R$ 15 milhões) – investimento aportado (R$ 1 milhão) = R$ 14 milhões.
Por usar projeções, o método descrito também pode ser utilizado para startups mais recentes e até mesmo sem faturamento.
Além desse cálculo básico, para operações mais complexas o método Venture Capital apresenta possibilidades de inclusão de mais variáveis, como percentuais de diluição de investimento em mais rodadas futuras e por análise de sensibilidade.
Agora que você sabe como calcular o valuation da sua startup, independentemente de qual seja seu estágio de maturidade e crescimento, siga-nos no Twitter, no Facebook ou no LinkedIn para acompanhar mais conteúdos como este.