Uma dúvida que muitos empreendedores tem é a respeito de quando uma startup deixa de ser startup, e tem de começar a ser gerida e planejada como negócio consolidado e/ou de maior porte. E para pensar nisso é preciso começar no caminho contrário, lembrando o que caracteriza uma startup.
Bem, startups são empreendimentos que vivem em cenário interno e externo de incerteza, aos quais um alto risco está associado. Portanto, passar por esse momento, em suma, e ter uma empresa estabelecida e saudável pode ser o ponto de troca de fase.
A seguir, vamos mostrar quais indicadores podem ser usados para se ter essa constatação e o que os gestores precisam fazer quando passam para a etapa de consolidação.
Quando o negócio deixa de ser startup?
A mudança de estágio ocorre quando a empresa se estabelece no mercado e pode ser considerada, inclusive internamente, como consolidada. Ou seja, é quando o ambiente do negócio perde sua característica de incerteza e deixa de ser um empreendimento de alto risco para sócios e possíveis investidores.
Como risco e incerteza por si só podem ser subjetivos, há indicadores objetivos que podem ser utilizados para diagnosticar o negócio e entender se a mudança de estágio já ocorreu ou não.
Um deles é o ponto de equilíbrio: quando o faturamento já cobre as despesas e pode-se obter lucro. Considerando que, via de regra, um negócio inicia com despesas operacionais e outros custos e sem clientes, chegar ao ponto de equilíbrio indica que existe receita recorrente e demanda relevante de mercado consumidor e clientes.
Com o ponto de equilíbrio alcançado, os responsáveis também podem perceber que o product market fit foi alcançado com sucesso. E se existe demanda sustentável, significa que provavelmente também se encontrou o channel market fit: os canais de marketing e vendas corretos estão sendo trabalhados para encontrar clientes em potencial e convertê-los em escala.
Considerando uma parcela menor das startups, as que recebem investimento-anjo ou outras formas de rodadas de investimento, o encerramento de aportes por não haver mais necessidade, é um claro indicativo de uma consolidação. Principalmente se essa interrupção acompanha a remuneração de investidores.
O que não deve ser utilizado para classificar ou não uma empresa como startup é o seu tempo de existência, pois existem os empreendimentos que precisam de mais ou menos tempo para se estabelecerem.
Por exemplo, duas ideias muito inovadoras, que precisam até mesmo educar o possível mercado consumidor, podem levar mais tempo do que outras iniciativas para se consolidarem. Mas uma dessas ideias pode conseguir financiamento e levar a metade do tempo em relação à outra para construir uma empresa consolidada.
Pode haver quem diga que se uma startup já está três anos ou mais operando, deixou de ser porque está bastante tempo no mercado. Porém, não significa que não existam mais riscos associados a essa ideia e alguma incerteza sobre seu desenvolvimento.
O que fazer quando o negócio deixa de ser uma startup?
Fortalecer a cultura corporativa
Se a cultura corporativa foi estabelecida e disseminada quando o negócio ainda se encaixava como uma startup, alguns pontos dela precisam ser fortalecidos para que aspectos importantes da empresa não se percam em excesso de burocracia, hierarquia rígida ou alto ritmo de processos. São problemas que muitas vezes afetam negócios grandes ou em crescimento.
Caso ainda não haja essa cultura oficialmente formada, é momento de criá-la, transmiti-la aos demais profissionais e não esquecer as origens como startup e os valores desse momento que precisam ser mantidos independentemente do tamanho do empreendimento.
Definir os caminhos do crescimento
Um negócio que deixa de ser startup deu o primeiro passo, mas ainda pode ser de porte pequeno e não deve se apoiar somente nessa primeira consolidação. Então, os caminhos para o progresso precisam ser desenhados baseados em produtos e serviços, canais de distribuição, oportunidades de mercado e outros fatores internos e externos.
A empresa pode exportar serviços, abranger o território nacional, desenvolver soluções adicionais para a sua principal ou formar parcerias estratégicas que abram portas. Do contrário, a consolidação pode durar pouco tempo, com a perda de fatia de mercado para players que estão buscando subir mais degraus no ciclo de vida de uma startup.
Profissionalizar processos não operacionais
Muitos negócios mantêm o andamento de tarefas operacionais da forma como é possível quando ainda são muito pequenos ou não deixaram de ser startups, geralmente por falta de profissionais e orçamento. Mas manter isso após um crescimento pode gerar prejuízos e outros problemas internos.
Por exemplo, sócios que mantêm o financeiro sob suas responsabilidades, realizando as tarefas no tempo livre, não devem manter esse funcionamento quando o ritmo de tarefas aumenta. Logo, é preciso estruturar um setor interno administrativo com profissionais especializados ou terceirizar o financeiro, garantindo excelência desses processos e a geração de dados confiáveis para a tomada de decisão.
Seguir arriscando estrategicamente
A concepção da ideia primária, seu desenvolvimento e a construção de uma operação em torno delas envolveram alto risco e por bastante tempo. Então, por que evitar todo e qualquer risco após a consolidação desse trabalho?
Obviamente, os riscos devem ser calculados e estarem dentro de um nível aceitável para a empresa em cada um de seus momentos. A partir disso, respeitando as margens de segurança, é preciso seguir arriscando de maneira inteligente e dando autonomia para profissionais de diferentes níveis da hierarquia, o que ajuda a empresa a seguir crescendo e inovando.
A ideia é que não apenas ocorra essa primeira elevação de patamar, mas que o negócio alcance o nível de uma scaleup quando deixar de ser startup, não ficando estacionada em um limbo entre as startups e empesas inovadoras de alto crescimento.
Quer entender melhor o que isso? Veja o que caracteriza uma scaleup e observe se você está firmando as bases, ou as tem firmadas, para alcançar esse patamar.